terça-feira, 15 de março de 2011

Semana do Hip Hop discute volência contra a juventude negra

Da redação do Jornal Brasil de Fato

Começou neste domingo (13), em São Paulo, a Semana do Hip Hop 2011. As atividades, gratuitas, acontecem até o dia 19 de março na Câmara Municipal de São Paulo, Galeria Olido, em quatro CÉUS e Boulevard São João.
Com o tema Hip Hop Combatendo a Violência Contra a Juventude Negra, a Semana do Hip Hop 2011 discutirá a questão do genocídio da juventude negra no centro de São Paulo e principalmente nas periferias
Os encontros e discussões do Fórum ocorrem a partir de oito eixos temáticos: difusão do Hip Hop; elaboração de políticas públicas de juventude; inserção do Hip Hop como tema transversal da educação; combate à discriminação de gênero; organização de uma agenda do Hip Hop na cidade; combate à discriminação racial; atuação contra a violência policial; e debate sobre geração de emprego e renda.
A Semana do Hip Hop 2011 é realizada pelo Fórum de Hip Hop Municipal SP em parceria com a Prefeitura da capital, representada pelas secretarias de Cultura, Educação e Participação e Parceria.
O Fórum Hip Hop Municipal SP, criado em 2005, é um espaço e canal de diálogo entre os jovens do Movimento Hip Hop e as representações da administração pública municipal com objetivo de discutir políticas públicas e criar critérios que direcionem a relação entre o Estado e os jovens, garantindo que não haja privilégios de uns em detrimento de outros setores.
Mais informações podem ser acessadas pelo endereço eletrônico forumhiphopeopoderpublico.blogspot.com.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Crianças em disputa: o ataque do capital

Brasil de fato, 8/2/2011
Crianças em disputa: o ataque do capital (1)
Roberta Traspadini
Análise: Supõe-se que, quanto mais cedo estas crianças forem educadas no projeto da classe dominante menor resistência estas terão.

08/02/2011


Nos últimos 10 anos cresceu a preocupação dos técnicos dos governos, dos políticos e do capital sobre a necessidade de se projetar cenários para o futuro.
Esta projeção nos mostra como, no exercício de poder, a classe dominante materializa e projeta para dentro da classe trabalhadora sua idéia de manutenção da ordem.
Mas por que as crianças da classe trabalhadora? Destacaremos 4 pontos introdutórios para o debate.

1.    O futuro exército produtivo

Segundo a CEPAL, a América Latina possui aproximadamente 600 milhões de habitantes. Destes, 27,3% têm até 14 anos de idade e 33,6% têm de 15 a 34 anos.
Tomemos como referência apenas o primeiro grupo. Se analisarmos as projeções para os próximos 25 anos, este grupo terá entre 25 a 39 anos de idade.
Em 25 anos estas crianças já terão passado por um processo de formação ideológica, cultural e política que moldará em muitos sentidos sua forma de ver e atuar sobre o mundo.
Supõe-se que, quanto mais cedo estas crianças forem educadas no projeto da classe dominante menor resistência estas terão, para assumir sua posição periférica na tomada de decisões em seus territórios.
É com base nesta relação formal de educar/adestrar para a venda da força de trabalho, que o capital determina o que é importante que as crianças internalizem: as imagens, as brincadeiras, os princípios e valores do consumismo-individualismo e, a concepção de que se destaque o “melhor” em cada ambiente de convívio social.
Assim se reitera a idéia sobre a melhor escola, o melhor bairro para se viver, a melhor empresa para trabalhar, o melhor sujeito em contraposição aos piores. Piores estes que deverão ser aniquilados do convívio social, em vários processos de prisão e privação.

2.    A formação da consciência
Na formação da consciência burguesa desta futura juventude, não pode haver espaço para questionamentos sobre a ordem.
O capital só materializa sua formação da consciência, caso domine e adestre.  O modo de produção dominante consolidou as bases materiais concretas para desenvolver aparatos técnico-científicos tais que o permita tirar vantagens de sua posição de classe hegemônica.
A tecnologia e a ciência falarão por si mesmas e ambas não deverão ser questionadas na sua liderança, dada a crescente possibilidade de consumo entregue a todos e todas.
Também existe a intenção de aniquilar com o sentido do público enquanto se reitera a força do privado, logo, além da conquista do capital sobre o trabalho, deve-se apreender o poder de uns poucos sujeitos sobre muitos.
Se ainda é possível visualizarmos a importância dos direitos sociais da nossa constituição na atualidade, a intenção do capital é de trabalhar agora para que no futuro estas bandeiras caiam por terra na pedagogia do exemplo.  Assim, o sentido do melhor volta com toda força retratado na lógica privada.

3.    Um exemplo concreto de projeção do capital.
No estado do Espírito Santo existe um projeto do capital que atua neste território denominado ES: 2025. Dita projeção com linhas de ação concretas para os 25 anos, que elegeu o governador anterior Paulo Hartung como o mais bem votado do País.
A Vale é uma das empresas que atua no Espírito Santo em ação, ONG criada para projetar-executar as linhas de reconstrução do território capixaba.
A empresa faz uma parceria com algumas escolas públicas e leva as crianças dos centros municipais de educação infantil para conhecerem suas instalações. Disponibiliza o ônibus, os instrutores, explica pedagogicamente o processo a ser apreendido, distribui jogos “educativos” de presente, dá lanche e retorna as crianças para a escola e suas famílias com a certeza de que reproduziu, a partir daquele momento, o diferente e belo na vida daqueles futuros trabalhadores.
Esta ação concreta mexe diretamente com a formação da consciência tanto das crianças, quanto de parte dos educadores, incluindo seus familiares. Por quê? Para que as crianças sejam as que:
a) Verão naquela empresa a possibilidade de se empregarem no futuro;
b) Desejarão desde já fazer o melhor para serem selecionadas, ou seja, fazerem por onde para estarem ali;
c) Visualizarão um conceito de sustentabilidade dado pela empresa que disfarça o real vivido. No jogo de montar não se vê minério e sim meio ambiente ecologicamente bem sustentado;
d) Poderão comparar o que têm e projetar o que desejam para o futuro, a partir do que ali viveram. Isto as remeterá inclusive para uma reflexão individual sobre a situação dos pais, dos amigos, do bairro, com o fim de/ou negarem o que têm, ou reforçarem o que querem para saírem do espaço dos que nada têm.
A Vale projeta, junto com seus pares, um futuro de submissão para estas crianças da classe, cuja aparente certeza de inclusão se constrói sob as bases dos princípios e valores ditados pelo grande capital.

4.    O que está em jogo afinal?
Está em jogo a manutenção da acumulação de capital centrada na exploração do trabalho, fruto de uma perversa dominação de classe.
Está em jogo o atual consumo da criança associado à inserção futura como trabalhador endividado consciente. Enquanto hoje são os pais os que arcam de forma endividada com o consumo das crianças, amanhã estes trabalhadores já terão internalizado que toda inclusão passa pelo tipo de consumo que são capazes de desejar e realizar.
Está em jogo a formação da consciência de que não existe outro projeto senão o da classe dominante. Talvez esta seja a mensagem mais clara de todas: a de que só resta para o trabalho, trabalhar para consumir e que a acumulação fica como propriedade privada, indiscutível, de quem emprega.
Está em jogo eliminar a disputa, as contradições, e colocar no lugar da divergência e do antagonismo um processo de dominação de classe como um projeto único de sociedade.
Isto não é novo na dinâmica de manutenção da hegemonia capitalista. Quiçá as bases técnico-científicas com as quais o capital ora conta, coloquem outros elementos que dificultam ainda mais a clareza dos projetos e processos em disputa.


Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ES

sábado, 5 de março de 2011

Racismo porque?

Jorge Américo e Eduardo Sales de Lima,
da Redação

“Por que o negro, quando entra no mercado, passa a ser monitorado? Por que, inconscientemente até, o funcionário de segurança dessas lojas passa a ‘copiá-lo’? Porque, na cabeça dele, o negro é o suspeito padrão”. É o que defende o advogado Dojival Vieira, em entrevista à Radioagência NP. Ele acompanha três casos de pessoas que teriam sofrido tortura física e/ou psicológica em decorrência de racismo nas três maiores redes de supermercado do Brasil: Carrefour, Walmart e Extra (pertencente ao grupo Pão de Açúcar).
Dois destes casos aconteceram no início deste ano. Em Osasco (SP), no dia 16 de fevereiro, a dona de casa Clécia Maria da Silva, de 56 anos, foi parar no hospital depois de ter sido acusada de furto por seguranças da rede Walmart. Um segurança revistou sua bolsa. A cliente portava o cupom fi scal que comprovava o pagamento das mercadorias que levava. Segundo a médica que atendeu a dona de casa, ela teve uma crise de hipertensão e fi cou próxima de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). O segurança teria dito que “isso acontece mesmo com os pretos”, segundo relato da cliente à Dojival, que acompanha o caso. A ocorrência foi registrada como calúnia no 9º Distrito Policial de Osasco no dia 18 de fevereiro.
Outro caso, tão grave quanto. Um garoto de 11 anos relatou ter sido levado a uma “salinha” nos fundos do hipermercado Extra da Marginal do Tietê, na cidade de São Paulo, e confi rmou ter sido agredido por seguranças no dia 10 de janeiro. O garoto teria sido abordado após passar no caixa com biscoitos, salgadinhos e refrigerantes e se encaminhava para a saída da loja.
Estes dois casos não são inéditos. Em 2009, no estacionamento do Carrefour de Osasco, o vigilante Januário Alves de Santana foi apontado como suspeito de roubar seu próprio carro. Na sequência, sofreu torturas por quase 30 minutos, com socos, pontapés e uma tentativa de esganadura que lhe provocou fratura no maxilar, provocando a destruição da sua prótese dentária.
A existência dessas “salinhas de tortura”, evidenciadas no caso do garoto abordado no Extra e do vigia agredido no Carrefour, põe os supermercados em condição análoga às masmorras. Isso de acordo com Hédio Silva Jr., exsecretário de Justiça do Estado de São Paulo.“São crimes hediondos. São salas de interrogatórios, espécies de masmorras contemporâneas em que as pessoas são isoladas do público e submetidas a toda sorte de constrangimento. Ao acentuar o papel da vigilância, com isso não estou diminuindo ou relativizando a responsabilidade que a empresa que contrata o serviço, que são os supermercados, possui”, elucida.